quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Eu tive um Rafeiro chamado Mustafá


Chegou-me às mãos com os olhos mal abertos, sem mãe e que amamentei conforme pude. Eu tinha horror a cães, embora na Guiné o meu pelotão tenha adoptado alguns, que nos acompanhavam muitas vezes.
Mas não neguei apoio ao bicho que me entregaram e lá o fui criando. Tornou-se num pacato cachorro, amigo da criançada da rua que o levava a passear. Fazia boas amizades, incluindo com o gato do vizinho. Adorava correr atrás duma bola e saltar e rebolar no monte onde aos domingos o levava a desentorpecer as patitas.
Ia ao médico periòdicamente, tomou as vacinas da ordem e tinha o imposto de circulação em ordem, devidamente autorizado pela Junta.
Passaram-se uns anos e o cãosito um dia desapareceu. Toda a malta ajudou a procurá-lo sem resultado. Uma tristeza. Desfiz ao fim duns dias a casota dele, mas eis que ao 19º dia, ele apareceu, muito sujo e com uma grande ferida no pescoço. Estava a chegar a casa à hora do almoço quando o vi na rua a brincar com os miúdos. Chamei-o e ele correu na minha direcção, atirando-se-me com um grande salto para de seguida urinar em cima de mim, creio que de alegria.
Fez comigo algumas férias e fins de semana, gozou praia e campo. Foi um animal extremamente dedicado e uma companhia familiar. Morreu com pouco mais de 14 anos. Acho que por mau tratamento clínico. Deixou saudades até hoje e já vão mais de 20 anos.
Conclusão desta estória. Porque resolvi chamá-lo de Mustafá. Simples, por ser de um preto retinto, embora com umas manchitas brancas, quiz reconhecer nele a amizade dos soldados africanos que comigo conviveram durante bastante tempo. E é só.