quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A nossa sala de visitas

Cada vez que olho a Avenida dos Aliados, sempre uma tristeza me invade. Não canto o Fado, mas rogo pragas ao Presidente da Câmara Rui Rio e ao Arquitecto mundialmente famoso, Siza Vieira. Como foi possível terem transformado este belo espaço, numa coisa cinzenta, triste, sem atractivos, sem verduras, sem cor... O supostamente chamado lago com catarata, não sei se é assim que se chama oficialmente nos registos camarários, é de uma falta de gosto tremendo. Gostam dele as gaivotas e pombas que por ali andam, para tomar banho e beber daquela água sempre cheia de porcaria.
Foi dito à população que este espaço foi criado para se encher de visitantes, produzir grandes concertos. Pois ali está o espaço para constantemente se exibirem barracas, seja de organizações político-sindicais, de venda de bebidas, ou outra coisa qualquer. Concertos ? No S. João e no Natal. Ou alugado (?) para ser produzido um cd de um grupo musical. Visitantes ? Só do lado do passeio da sombra no verão. No inverno só mesmo por necessidade se anda por este triste espaço.
Que slogan mais caricato. Mas tudo serve para fazer dinheiro para a Câmara, mesmo que depois seja para distribuir pelos velhos condutores de antigos fórmula 1, do tempo da Maria Cachucha, alguns com mais de 70 anos, que até há um ano vinham de borla, mas que o sr Presidente resolveu obsequiar com uns simpáticos milhares de euros. E claro, em cada carro um slogan destinado não ao Presidente da Câmara mas ao homem "bom" Rui Rio. Vaidades.
Lisboa teve as suas Vacas. O Porto não podia ficar atrás.
Descendo a Avenida até à Praça da Liberdade, um "génio" mandou fazer umas dezenas de bonecos iguais e mandou outros "génios" das artes plásticas vesti-los. Chamam-lhes Homem T.
Ou Homem Total e cada "génio" fabrica o seu conceito de Homem.
Bem faz a Menina Nua na sua beleza plástica, que lhes atira um sorriso de desdém.
De dia, ainda se conseguem ver os mamarrachos, mas de noite parecem almas penadas que se passeiam pela nossa sala de visitas.
Vão leiloá-los. Não sei para quem é o dinheiro. Mas o sr. Presidente da Câmara deveria arrematar uma dúzia deles para os colocar nas escadas de acesso ao seu gabinete para lhe servir de guarda de honra e assim recordarem ao Homem Total a porcaria que anda a fazer por esta cidade.




terça-feira, 8 de setembro de 2009

As Vindimas no Douro

Há coisas que imaginamos e queremos realizar mas nunca o conseguimos. Já consegui realizar alguns sonhos, bem antigos. Agora consegui realizar outro. Participar de uma vindima no Douro. Pois digo que é uma coisa do outro mundo. Não é possível descrever, o que se sente nesta altura, naquelas terras.
Acordei cedo neste domingo, ainda a Lua estava alta. No ar um cheiro a môsto que embriaga. Olhei lá para o fundo das serranias, mal vislumbrando os seus contornos.
Por cima do Rio Douro, a neblina matinal percebe-se nitidamente. Só desaparecerá com a outra neblina, aquela permanente que nesta altura cerca os montes, dando-lhes uma cor que deixa a garganta seca.
Aqui não chove desde Junho. As uvas não encheram como deveria ser. Mas a sua doçura enjoa os paladares mais sensíveis.
As uvas estão do meio da videira para baixo. Os cachos entrelaçaram-se nos arames. As gavinhas misturaram-se. Mas é preciso cortar o pé mais curto possível. Ou então por partes. Algumas uvas esmagam-se nas mãos, por muito cuidado que se tenha. Pelo menos a mim. O melaço cola a tesoura à mão.
Já doem um pouco as costas e as pernas. Começa-se pelo fundo da encosta e vai-se cortando até ao cimo. Onde a meio da manhã nos espera um almoço tradicional: Sardinhas, batatas cozidas, broa e vinho. Não resisti à tradição. Um pouco de descanso, fumar um cigarro e regressar à luta.
Individualmente vamos deixando as uvas em baldes pequenos, que posteriormente se vazam para baldes de 60 a 70 kg.
Que moços transportam encosta a cima ...

... até os deixarem na camioneta que transportará as uvas até ao lagar, ou à cuba que fará o seu trabalho.
Mudando de vinha, o processo é igual. Só que esta tem a característica de ter sido plantada em paralelo e não na vertical, em relação ao monte. O pessoal parecem mosquitos, que mal se diferenciam, no meio dela.
Fiquei impressionado pelo trabalho, que já tinha imaginado. Especialmente por conhecer parte destas terras da Quinta da Senhora da Graça.
Contaram-me que antigamente e não vai há muitos anos, quando não havia carrinhas nem os caminhos actuais, que só de andar neles meia dúzia de metros ficamos com tonturas e os pés todos arrasados, o transporte das uvas eram em cestos de cerca de 100 kg e teriam de ir à Régua para seguirem depois para a Quinta do Judeu, onde eram pisadas. Conheci este itinerário por estrada. Imaginei os caminhos antigos. Pelos montes deverão ser cerca de 12 km. Cada homem ganhava a sua jorna mas teria de fazer 5 vezes o trajecto. Havia um, ainda vivo, que transportava 2 cestos e ganhava 2 jornas. Por tudo isto, o Vinho do Douro e do Porto tem de ser muito bom.
Por alguma razão o Marquês de Pombal, no século XVIII, decretou esta região demarcada. A primeira no mundo de vinhos únicos e de alta qualidade.