segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Receitas para o´s Stresses


A vida está a tornar-se enfadonha. É a política desavergonhada, é o nosso clube que não ganha, é o tempo que nos oprime, esteja calor ou frio, chuva ou vento; são as Tv's com os programas reais, as entrevistas, os comentadores, tudo gente boa que não vale um cigarro Provisórios, mas pagos a preço de ouro para dizerem uns "bitaites" sobre o que sabem e não sabem.
Não gosto de dar conselhos, mas se te sentes em baixo por tudo isso e mais alguma coisa, nada como um dia bem passado na cozinha.
Mas primeiro tens de ir às compras e começa por te forneceres de umas garrafitas preferencialmente de Tinto, que pela força do mercado e da crise até se encontram a preços razoáveis. Por exemplo Conventual alentejano ou D. Pancho duriense, que custam à volta de 2 euros. Me desculpa, amigo Zé Manel, mas os teus vinhos não são para matar o's Stress'es. São para saborear na maior calma.
Não esquecer umas cervejolas, porque a tarde terá esperas entre preparações culinárias.
Podes começar pelo prato forte. Logo pela manhã. Um bom naco de carne de novilho, alto, para assar no tacho (ou panela). O talhante saberá o que tu queres. Do outro lado do mundo, os nossos irmãos (e irmãs) brasileiro(as) devem gostar da picanha. Também serve.
Começas por alourar a carne de todos os lados num pouco de azeite, só a cobrir o fundo do utensílio. Vais dando umas picadelas com um garfo na carne para o sangue ir saindo mais fàcilmente. Coloca um pouco de sal para que a humidade também saia. Deves ter preparado um calde carne - os liofilizados em última instância também servem - ao qual juntas um pouco de vinho tinto e um toque de pimenta e vais borrifando a carne depois de alourada com a ajuda de um mólho de salsa . Coloca o fogo em lume brando e deixa ir apurando. Quando achares a carne apurada a teu gosto, retira-la do tacho (ou panela) e juntas ao môlho que lá ficou, o caldo de carne e se achares bem, rectifica os temperos podendo até juntares mais um pouco de vinho. Rapar bem o fundo e deixa apurar esse môlho. Fatia a carne e regas com o môlho na altura de ir para a mesa. A acompanhar, grêlos salteados em alho, azeite e cominhos; arroz branco - segredo: na água metes uma cebola com quatro cravinhos de cabeça, espetados; 2 dentes de alho; um ramo de salsa e duas colheres de azeite. Quando estiver quási cozido junta umas rodelinhas de salpicão -; claro que nao se deve esquecer um pouquinho de sal. Feijão preto, devidamente estufado num bom estrugido de cebolada picada e azeite, com bocadinhos de presunto ou toucinho fumado a derreter, ou chouriço ou salpicão. Inventa. Querendo podes também acompanhar com batatas. Depois de cozidas mas ainda encruadas, pequenas, aloura-las no môlho da carne e serves salpicadas com salsa muito picada.
Infelizmente a foto foi-se e não dá para mostrar o trabalho de uma manhã na cozinha.
Não esquecer que ao mesmo tempo que cozinhas, vai embutindo um copinho do Tinto que escolheres. É o melhor ajudante.
Mas para o stresse se ir indo, prepara o lanche. Que tal uns folhados de carne ? Para que não tenhas muita chatice com a parte pior, a massa, compra-a já preparada numa embalagem frigorificada - ou duas ou três, tu é que sabes - de massa folhada.
Começa por fazer um saboroso picado de carne, cujo ingrediente principal pode ser do mais barato, juntando tudo que te vier à cabeça: legumes, chouriços, presunto, toucinho, azeitonas, enfim. Aliás, se estiveres com uma grande "mona" podes fazer de tudo, junto ou separadamente. Se houver amigos para o lanche que só comem botânica ou comida de grilo, é fixe preparar uns folhados de legumes: Cenoura em tiras fininhas, couve branca, idem, tomate; mas inventa, é o melhor.
Mas o que interessa agora são uns pastéis folhados, cuja origem parece ter sido em Chaves. Ó gente da minha terra, lembram-se de em Passos Manuel existir a Casa dos Pastéis de Chaves ? Bom, ainda existe, mas os pastéis já não são o que eram. Nem os da Império. Adiante. Vamos ao petisco.
Picar muito bem todos os ingredientes. Há aquela maquineta que é preciso dar à manivela e que utilizei neste menú... Mas há as picadoras um dois três que fazem o mesmo efeito, embora deixem a carne um pouco granulada. O trabalho é menor. Mas como é para combater o stresse, o esforço físico e o tempo não conta, pelo contrário, ajuda. Seguindo, um bom estrugido de cebola bem picada e alho esmagado, em azeite. Juntar os ingredientes e deixar apurar. Vai juntando aos poucos, muito pouco, o tal caldo de carne, com um cheirinho de cominhos e nós moscada. E vinho, pouquinho, para que apure sempre em fogo lento e pouca humidade. E pimenta a gosto, bem como o sal.
Depois de esfriar, abres a massa e vais recheando. Dá a forma que quiseres aos pasteis. Rolo, Meia Lua, Quadrados, põe a tua imaginação a funcionar. Não esquecer de untar os bordos com ovo batido e levar ao forno moderado (180º na prateleira do meio). Se começar a alourar rápido, coloca uma folha de papel de alumínio. Meia hora deve chegar, mas aí controlas. Lembra que estás ainda no stresse. Tem calma e ponderação e não queimes as pontas dos dedos no tabuleiro.
Quando achares que a massa está cozida, deixa arrefecer um pouco. A gula não é boa com calor de 180º. Esquece os tintos e vai numas cervejinhas a acompanhar e tá feito.
Mas lembra, caro stressado, que tiveste tempos livres. Aproveita-os, entre um café e um bagaço de lavrador, a fazer uma mousse de chocolate, mas muito simples. Compra um pacote - ou dois ou três ou os que quiseres - de chocolate em pó. Por cada 250 gramas junta um quarto de litro de leite, mas roubado. Vai mexendo mas com a batedeira à moda antiga, aquela de varas. Devagar, com calma - olha o stresse - só de olhares o teu trabalho ficas de boca cheia.
E vai imaginando de como gostarias que te soubesse essa mousse. A Wiskie ? A Vinho do Porto ? mete umas gotas e sem ninguém ver e vai provando. Quer dizer que lambes a varinha. E mexe mais. Tens frutas secas que sobraram do Natal ?: Nozes, Amêndoas, Pinhões, Avelás ? Mete lá dentro e vai mexendo sempre. O stresse está a passar. Agora só mais uma coisita, ou duas, para finalizar: O resto de café que sobrou, mete-o lá para dentro e já agora um pouquinho de canela. Mexe mais 5 minutos. E põe no frigorífico. O stresse está quási a ir-se.
Toque final: Naquele raspador obsoleto que tens no fundo da gaveta das coisas inúteis e que compraste há muitos anos para cortar e fazer batatas fritas à inglesa, que nunca serviu para nada, utiliza-o agora raspando um pouco de chocolate de leite em tablete e larga umas ripas para dentro da tigela.
Agora pensa como gozaste o teu dia stressante. Poderá o teu clube até ganhar. Não viste TV. Não ouviste políticos nem comentadores. O tempo nem está frio e o sol brilhou. Tudo muito bom. Mas nada como um dia de cozinha para nem dares fé do mundo horrível que te rodeia.
Agora só mais um cafèzinho e um bagaço para terminar o dia. Antes de ir ver os emails e saltar para a cama e ler mais uma história da colecção Vampiro.