...Um arrozal em pleno desenvolvimento. Pena não poderem ver as belas cores.
Catió, tantos de tal...
...Aqui é o posto construído pelos meus rapazes. Tem uma vista linda sobre a bolanha.
Bolanha, como sabeis, é... etc e tal. Catió, 4 de Dezembro de 1969.
(Não convinha nada dizer que este posto-abrigo foi feito enquanto estive internado no HM) Lá vamos nós a passear pela estrada até Gandjola fazer um reabastecimento. Parece uma procissão.
O santo vai na Daimler, pelo sim pelo não.
...Queridos Pais: Hoje levei o meu pelotão até este caminho lindo, para uma foto de recordação. Para brincar à séria, o meu alferes tem um rádio que se ouve até no Porto se for preciso. E o cãozinho é um dos muitos que sempre nos acompanham.
(o que se tinha de inventar para em casa não se aperceberem de como era a vida)
...Outra paisagem linda.
Esqueci de referir na carta que foi deste local que tive o meu baptismo de fogo. 6 de Junho de 1968. 21 horas.
Mal se vê, mas ao fundo está Catió. Reconhecimento do local
E sempre uma carta para os amigos:
Lindas bajudas depois da pesca e banho.
Sempre a lembrança de um dia especial, que fazia doer o coração:
...Olha mãe, no dia dos seus anos. Que festa fizemos a comemorá-los . Catió 12 de Junho de 1968.
...Hoje fui com uns amigos visitar umas ruínas de uma antiga fábrica de descasque de arroz.
A coisa não foi bem assim. Estava eu de vague-mestre ao rancho, imposto claro, e andava à procura de comida. Claro que a população nos era hostil e não vendia nem um frango para 4, quanto mais uma vaca ou um porco, para 100
Detestavamos o governador (chefe de posto). E porquê ? Porque foi fazer queixinhas ao comando só porque lhe assaltamos a quinta onde produzia ananazes.
Mandaram-nos do comando não sei o que fazer. Saímos ao princípio da tarde e já era noite e a rapaziada estava cheia de fome. Estávamos lá no meio da quinta. Eramos piras, com menos de uma semana de Catió. Não nos deram de comer nem ração de combate. Julgávamos que aquilo era nosso. Que havíamos de fazer...
Mato é mato, seja do governador seja de quem for.
Por estas e por outras, afinal nunca mais esqueci a Guiné. O cheiro acho que ainda o tenho, as saudades também. E sinto mais que nunca as recordações daqueles homens com quem mais de perto convivi durante 2 anos.
Alguns, poucos, já encontrei. Mas quero mais.
Alguns camaradas que com mais assiduidade convivo ( O Teixeira, o Cancela, o Carvalho velho, e outros de que não me lembro agora ) viajantes como eu no mesmo barco e nas mesmas datas, foi a Tabanca de Matosinhos que nos fez reencontrar. E recordar esses tempos, embora nunca nos tivessemos conhecido nem no barco nem nas bolanhas da Guiné.
Outros vou tendo contactos aqui pela net ou pelo telefone. Até das Américas: Alô Tobias ...
Mas devem sentir como eu, sempre que passa uma data, uma certa nostalgia dos nossos vinte e poucos anos.
Um abraço para todos os camaradas .
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