terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Recordações do passado, vividas no presente

Não posso precisar ao certo quando foram uma das grandes cheias do Rio Douro nas cidades do Porto e Gaia, que eu registei numa velha Agfa 6x9 do meu pai e cujo rolo dava para 8 ou 9 fotos. Já não lembro. Mas creio que foram no ano de 1963 ou 64. Em Fevereiro. Portanto há mais de 45 anos. Se estou enganado, que me corrijam. Se estou certo, agradeço que o façam, pois gostaria de registar a data correcta.
No interior dos Arcos da Ribeira, numa daquelas ruas de que nunca sei o nome, mas creio que é a dos Canastreiros, existe um comércio que à porta tem registadas todas as grandes cheias, com a data e a altura até onde chegaram as águas do Douro. Tenho no arquivo a foto, mas não consegui encontrá-la.
Pois bem, há uns dias, aproveitando uma acalmia no tempo que vem fustigando a cidade, resolvi refazer o trajecto que na altura presumo ter feito, para comparar como estão as duas margens do Douro. Aqui vos deixo os registos fotográficas das duas épocas, embora nas antigas estejam bem marcadas as cheias e noutras o Rio Douro quási normal. É que as barragens entretanto feitas, controlam as suas águas.
Um facto a reter: a velha Agfa tinha uma objectiva com um zoom bem curioso, fàcilmente notando-se as diferenças. Para os leigos da fotografia, essa máquina apenas regulava as distâncias, por exemplo: de 1,5 a 3 m; 5 a 7 m; infinito. E as aberturas da lente eram reguladas para sombra, sol encoberto, ou sol pleno. Isto em três símbolos. As fotos em papel foram digitalizadas pelo meu amigo Manuel Carmelita a partir das provas 6x9 cm. e lògicamente que perderam nitidez. Mas devo dizer que os originais são de uma nitidez muito grande, bem revelados e fixados, e que ao longo destes anos não perderam a sua qualidade no papel. Hoje temos as digitais, a cor, os photoshops (que não gosto de utilizar), embora faça algumas correcções a partir do Picasa2 ou da Galeria do Windows. Especialmente o "endireitar". Simples e barato.
Pois então vamos ao percurso que provàvelmente fiz na altura. Devo ter subido a Avenida da Ponte, conforme lhe chamávamos na altura, hoje é a Avenida Saraiva de Carvalho. Presumo eu que ainda assim se chama... Passei ao lado da Sé e entrei directamente no tabuleiro superior da Ponte Luíz I. A imagem é a da Avenida Gustavo Eiffel, com a Ponte D. Maria ao fundo. Na foto recente há umas ligeiras diferenças de local, pois o percurso não foi o mesmo, já que nos dias de hoje não tenho coragem de atravessar o tabuleiro. Por isso utilizei o metro e o funicular. Modernices... E nem mais um passo...Por baixo, os Guindais. Claro que há agora a Ponte do Infante a obstruir, visualmente, a de D. Maria. Mas ela ainda lá está e renovada desde há dias. E linda como sempre.

Já do lado de Gaia (ido de metro, claro), voltei-me para os Guindais e Fontaínhas. Lado direito da Ponte. Nos tempos antigos, não se vê a sombra do tabuleiro. Mas fiz a foto de tarde, isso tenho a certeza. E porque tenho a certeza ? Porque de manhã gostava muito da cama. Como ainda hoje. De qualquer forma podem-se notar as sombras, de poente para nascente.
Estas comparações também mostram que a cidade evoluiu em termos ambientais. Um dos muitos ribeiros que vinham desaguar ao rio com os esgotos, já não existem. As etares tratam do assunto.
Do outro lado, à esquerda da Ponte, logo abaixo do Jardim do Morro, vê-se comparativamente, como o Cais da Ribeira está submerso. E os batelões ainda aqui vinham fazer as suas descargas de mercadorias.
Lá do Jardim do Morro, o percurso para descer até ao início do Cais de Gaia teria duas hipóteses. Como hoje. Não sei qual adoptei na altura, mas agora desci pelo lado da Serra do Pilar, isto é, pela direita da Ponte.
A velha árvore lá está, aguentando todas as cheias e vendo a evolução do Cais, hoje um belo passeio pedestre, onde se pode comer ou apenas beber um copo, olhando o Porto em frente.
Voltando a atravessar o rio por baixo (nossa forma de expressão quando regressamos, ao Porto ou a Gaia, pelo tabuleiro inferior da Ponte Luíz I), uma foto mais próxima da Ribeira. Por Cima do Muro, estão ali casas novas, que nem eu sabia que existiam há 40 e muitos anos. Quer dizer, reconstruiu-se e modernizou-se (?) e muito bem, toda esta zona, onde até há um Hotel de 5 *****. Para além dos restaurantes e bares, também as tascas ainda lá estão, onde as célebres "iscas" da Ribeira não perderam a fama.
Já do lado do Porto e em cima das Escadas do Codeçal, volto a recordar a Gustavo Eiffel, partindo desde a Ponte D. Luíz até ao Freixo, mas agora passando por baixo de quatro pontes e não uma apenas conforme era naquele tempo.
Nota-se novamente o zoom da velha Agfa. Parece que a Capela do Senhor de Além estava logo ali.
Pela escarpa da Serra, vêm-se agora as inúmeras habitações, que de clandestinas passaram a legais. E a própria escarpa está também protegida. Polémicas para trás e para a frente, mas os inteligentes lá se entenderam. Espero eu, que para sempre, pois senão haverá tragédias.

















2 comentários:

Luci Brito disse...

Jorge meu amigo se foi em 1963 são passados exatamente 47 anos. Que trajeto belissímo de recordações do passado/presente.Fizeste o mesmo percurso,mostrando mudanças que ocorreram ao longos dos anos um avanço enorme em todos os sentidos...o que mais me impressionou foi a velha árvore ,antes ficava envolta pelas grandes enchentes ,hoje ela aparece firme e forte ,e ganhou de presente um belo passeio onde aparece se exibindo para todos que por ali passam..na postagem das fotos antigas ,pensei que a árvore já não mais existia...
Lindo trabalho....
obrigada ..
beijinhos com carinho!!!!

Anónimo disse...

Sensacional...
O bom e velho Porto!
Obrigada.
Malu.