quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Divagando

Hoje, que foi ontem, andei por matos de comezainas, como me é normal às quartas-feiras.
Chuva de manhã�, muito cinzento à tarde.
Nos para lá e para cá, há sempre qualquer coisita no caminho que chama a atenção. Foto feita, lembrança para um amigo. que vamos descobrindo atravez de letras seguidas, sem sabermos se chegam ao destino, pois um apagão pode destruir meia dúzia de minutos de boa prosa escrita.
Acho que ando a escrever num estilo esquisito, que não deveria ser o meu. Tento corrigir, mas por vezes já nem dou fé. A culpa deve ser da aculturação, palavrão que não sei o que é, mas ouço muito por aí.
Quer dizer que as minhas cumplicidades maiores são duas: Nesta coisa de net, o Brasil é maioral, com as suas diferentes misturas linguísticas, mas doces, fraternas, que me levam a mudar gramaticalmente o português perfeito.
A outra, é a vivência permanente com ex-camaradas, que após tantos anos, ainda não esquecemos a tropa, nem África, nem a solidão, onde as palavras e suas definições não contavam para nada. Essa rusticidade linguística ainda hoje é nossa. Nem sabemos o que "dizemos" mas sabemos o que queremos dizer. E entendemo-nos.
Um dia destes, alguém tomava apontamentos no meio de uma confusão verbal. Disse-me que estava a criar um pequeno prontuário da "Linguagem do homem que foi militar em África. 40 anos o após". Lindo.
Como provàvelmente diriam o Eça ou o Camilo, se tivessem permanecido uma semana no Brasil, a prosa é boa mas está longa. (Onde já ouvi isto ?)

Porto. Avenida Rodrigues de Freitas e as suas árvores. Soberbas no verão. Parecem tristes no Inverno. Mas é engano. Estão a recuperar.


Uma montra de florista. Um gracinha

domingo, 15 de novembro de 2009

11 de Novembro - S. Martinho

Domingo tempestuoso, bom para ficar em casa e recordar a semana. Então há que recuar até ao Dia de S. Martinho e lembrar os belos momentos de confraternizão passados junto a amigos, na companhia de deliciosas castanhas e de um bom vinho. Para que a tradição nao se perca. Coisa de velhos

A parte da tarde começou no Café Progresso, onde pacientemente esperamos que algum ex-camarada dos nossos velhos tempos militares, das Caldas até à Guiné, apareça. Reunião habitual em todas as segundas terças-feiras de cada mês. As castanhas vieram camufladas da Tabanca de Matosinhos, local de encontro de outros ex-camaradas, mas aqui todas as quartas-feiras.

Seguiu-se depois o trajecto por outras picadas e fomos dar ao Rei dos Cachorros, não só para matar os desejos do Moreira como para manter a tradição da visita às capelinhas. As capelinhas já não são o que eram, mas para o efeito serviu. Por esta altura o Dias já tinha desertado. Mas paciência. Lá mais para a frente, seguimos em romagem até ao Abreu, que nos deu a provar um tinto verde novo, que daqui a dois meses deve ser de fazer cair para o lado. Não sem antes termos embutido uns pregos especiais, desejos do Bioxene, que isto de comer só castanhas não enche a mula.A noite estava quási no fim, e para a posteridade fica registado que estávamos todos lúcidos e nada etílicos, salvo seja.As fotos n�o entraram na ordem como deveria ser, coisa que não sei explicar o porquê, mas aqui começou o início do dia de S. Martinho. Na famosa sala do Milho-Rei, onde a Tabanca de Matosinhos confraterniza todas as quartas-feiras. Estavam 50 seguidores deste Santo tão geitoso de comes e bebes.

Por curiosidade apenas, aqui fica mostrada a obra-prima de um artista, complementada com uma aguardente velha de Vinho do Porto. Tudo obras de ex-camaradas. Para leiloar em breve.

E porque hoje é domingo sem futebol, vou beber uns púcaros não sem antes mandar esta cena para os amigos que estão todos chateados lá em casa sem ter nada que fazer.

Até breve. E não se esqueçam: S. Martinho é sempre que um homem - e mulher - quiserem

terça-feira, 3 de novembro de 2009

50 anos

Depende da maneira como quizermos ver as coisas. Ou foi h� muito tempo, ou parece que foi ontem. 50 anos s�o 50 anos. Quando entrei pela primeira vez no meu primeiro emprego. Tinha ainda 13 anos mas nesses tempos j� era considerado "grande" um jovem da minha idade. Foi a 3 de Novembro de h� 50 anos. Respondi pessoalmente a um an�ncio do Jornal de Not�cias �s 10 horas da manh� e fui admitido, tendo de me apresentar �s 14. Bendita a hora. Entrei para uma empresa que tinha "pouco" mais de 50 empregados. Fui tudo ali dentro. Carrej�o, servente, arquivista, dactil�grafo,respons�vel por expedi��es de mercadorias, respons�vel por pessoal - j� haviam mais de 70 empregados - adjunto, confidente de patr�es e de pessoal, desenrascador... at� aos meus 22 anos e pouco. A� parei e "fui" para a tropa e para �frica. Durante 3 anos. Quando regressei, em Abril de 1970, esgrouviado, intempestivo, malcriado, (em termos civis, porque militarmente eram normais), semi-analfabeto, l� estava o meu lugar. Acabei de me formar como homem e profissional nessa Empresa, uma das maiores do Pa�s e n�o s� no seu sector ( industria gr�fica e chamava-se Artistas Reunidos) e que chegou a ter mais de 250 trabalhadores. Acabei por sair da empresa ao fim de 19 anos para tentar outros voos. Era j� o n� 12 em antiguidade. Infelizmente a Empresa j� n�o existe, nem os seus saudosos fundadores - mais que patr�es, qu�si pais para mim - nem os seus dois mais directos colaboradores administrativos - mais colegas e professores do que chef�es -. As saudades s�o muitas dos "velhos" que conheci menino e que j� se foram: O Afonso que me intruduziu nos segredos da industria e da pesca; O Stockler que me ensinava psicologia; O Xico Bernardo que encadernava os meus livros e com quem passava horas a falar de escritores e de alguma pol�tica; O Sr. Rui desenhador, senhor j� com uma certa idade, o seu eterno la�o bem posto no pesco�o e colarinho da camisa, dava-me conselhos para tirar as espinhas - uma punheta bem feita, aproveir o l�quido e esfregar na cara, era rem�dio santo. O Ant�nio Sousa e as suas demonstra��es de como se imprimia numa maquina manual sem as m�o ficarem l�. O sr Bernardino, com quem partilhei entregas de encomendas nos recoveiros ali na Rua da Madeira, transportadas aos ombros ou �s costas; E quantas vezes no regresso carregamos novamente �s costas, desde o madeireiro da Travessa dos Congregados at� ao cimo da Rua do Almada, caixotes destinados aos A�ores e Madeira carregados de postais ilustrados para os turistas comprarem de recorda��o (Ah os grandes editores, senhores N�bregas e Perestrellos) . Mas logo al�, nos Congregados ou na rua da Madeira, o Sr. Bernmardino me pagava um copo e uma sande ou uma posta de s�vel. Mas tantos outros j� se foram, gente boa e grandes artistas a quem muito fiquei a dever. Felizmente ainda h� muitos por c�. E quem passou por essa Empresa nunca mais esqueceu. Nem os velhos patr�es, nem as suas filhas felizmente ainda vivas, nem a camaradagem dos bons e maus tempos, porque ou houve e n�o foram pequenos. Mas ficou a amizade e a minha lembran�a de quando mecei a trabalhar. H� precisamente 50 anos.

Conv�vio anual. Quem trabalhou e viveu naquela empresa nunca mais esquece.

O Senhor Fernando Silva, com 80 e muitos anos, foi o �ltimo trabalhador a sair da empresa. Ao lado, o Germano, o Brecas, que foi meu s�cio e � grande amigo. Muito me ensinaram n�o s� da vida como sobre a industria. Muitas lutas passamos juntos.

Mais de 100 ex colegas estivemos no �ltimo conv�vio em Junho. Tantas saudades

domingo, 1 de novembro de 2009

Porto Cartoon


É um Festival de Cartoon que se realiza na cidade do Porto - A Minha Cidade - desde 1999, com um tema específico em cada ano. Reune Cartoonistas de todo o Mundo com milhares de Cartoons em exposição permanente, no Museu Nacional de Artes Gráficas, ali ao Freixo, bem junto ao Rio Douro e no limite com a cidade de Gondomar.

Porto, Capital do Cartoon, foi proclamada em 23 de Junho de 2008 em 10 linguas e pela voz de figuras internacionais do humor em cartoon.

Um prazer para quem aprecia artes gráficas, o desenho e o humor num cartoon.

No mínimo, uma visita aos sites já nos deixa deslumbrados.


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Os Velhos e a Tropa

Tropa, quer dizer Forças Armadas Portuguesas.
E cada vez me repugna mais dizer ou escrever estas palavras "Forças Armadas Portuguesas" ou a sua sigla "FAP".
Desde a criação de uma lei em Fevereiro de 2002 de uma pensão para antigos combatentes, de que só alguns tiveram conhecimento e de como dela se poderia auferir, até à Lei publicada em 2009, fica demonstrado como os Presidentes da República, que aprovam as leis do País, os governantes que fazem as leis bem como os deputados da Assembleia da República, tratam a "escória" dos militares que em nome da Pátria una e indivisível, foram forçados como presidiários a cumprir pena no degredo em África, desde 1961 a 1974, por períodos de dois anos, uns, pouco menos, outros um pouco mais.
Já somos poucos os sobreviventes desse tempo. Dizem-me que cerca de 300.000. Muitos com diversos problemas de saúde. Mas esperam os nossos queridos governantes que nos despachemos depressa para o outro mundo, pois aqui já andamos a mais.
Bem isto ao caso por mais uma vergonhosa afronta ( como se diz em alguns partidos tipo PCP e satélites, também eles metidos nesta estória ) que esses chamados governantes - Presidente da República, Governo, Deputados - infligiram à atrás dita "escória" negreira de terras de África. Refiro-me à tal pensão generosa, que inicialmente recebiam alguns de nós. Cerca de 120 euros ANUAIS. Com o tempo foi-se actualizando essa esmola. Para alguns, como disse, pois a maior parte perdeu automàticamente esse direito. Ou por desconhecimento da Lei, como terá sido o meu caso, segundo me foi dito, ou por que não sei... Acho que a partir de certa altura deixou de ter validade a Lei.
Não fazendo deste caso, um assunto individual - que o não é pois há camaradas que são tão ignorantes como eu e portanto não recebem esta "misericordiosa" pensão - a nova lei, a tal de 2009, veio pôr os pontos nos iiiisss. Isto é, reveram a lei de 2002, cheia de incongruências, segundo disseram, e toca de "gamar" uns euros, que nalguns casos é superior a 40%. Quer dizer que há pessoal a receber menos de 100 euros ANUAIS.
Se meter os papeis pela terceira vez e me for considerada a esmola, parece que receberei cerca de 130 euros ANUAIS. Não sei se estarei cá se isso acontecer. Mas agora vou mesmo chatear e prometo encher as caixas do correio desses Ministérios e dos Serviços das Forças Armadas e de Ligas militares - mesmo as não controladas governamente - e Segurança Social, enfim tudo que for sítio onde recebam correio electrónico. Vão todos gozar com a pqp. E deixem os "velhos" em paz de uma vez.
Só de passagem: Alguém ouviu ou leu a comunicação social, comentaristas, partidos, referir-se a este tema ?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Confraternização de antigos militares da Guiné

O 5 de Outubro amanheceu triste e chuvoso, como manda o Outono. O Carlos Silva e o Carvalho de Medas organizaram este encontro-confraternização da malta de Gondomar que andou pelas bolanhas da Guiné nos anos 60/70 do século passado. Mas dizer que era só para a malta da Guiné e de Gondomar não seria bem, pois estava aberto a todos os camaradas que aparecessem. De outras guerras e de outros concelhos.
O local foi em Santa Eulália, junto ao Soldado, assim conhecido desde 1971. Lá está o memorial.O pessoal foi chegando, demos um abraço a quem há muito tempo não víamos,
mas também ficamos a conhecer novos camaradas.
Alguns até vizinhos, que nem sabíamos que andaram quási pelo nosso sítio,
lá em terras Guineenses.
O Carlos deixou umas palavras, que ouvimos sentidos,
relembrando quem por lá ficou.
São sempre momentos que marcam a rapaziada,
embora tenham passado já dezenas de anos.
Os "velhinhos" das bolanhas, que nos representaram a todos. Bom, mas a vida e o dia têm de continuar.
O Carvalho espera-nos em Medas, a sua terra.
Azimutado o caminho,
temo-nos de reunir junto à Foz do Sousa para sair em "coluna".
Aproveito para deitar um olhar ao rio Douro e ao seu afluente Sousa,

que aqui deposita as suas águas.
E à gente que trabalha no seu quinteiro,
não querendo saber do feriado para nada.

Enquanto esperamos uns pelos outros, dois dedos de conversa.
O tenor Carlos Costa, prisioneiro na Índia e o Carmelita, vão palavreando. Lá ao fundo, o Soares e o Barbosa destacam-se...
Entrando na ruralidade de Medas.
Os frutos da terra já estão apanhados e guardados.
Cá estamos nós à espera da promessa do Carvalho.
Uma churrascada de Porco. Venha ele.

Lindo naquela brasa. Mas há que esperar um pouco mais.
Ainda não está no ponto.
Chegou a hora. Vamos a ele pessoal.
E o Carvalho dá o exemplo.
O bicho vai ficando dizimado, e há quem aprecie a arte do "desmancho"
Entretanto o pessoal lá vai tagarelando.
Mas em simultâneo mete uma bucha e bebe mais um copo.

E o bichinho lá se vai sumindo...
A chuva quis estragar a festa, mas o pessoal enfiou-se logo no "abrigo".
Mas foi só para brincar com a gente aquele chuvinha de nada. E voltou tudo ao ataque...
...E o inimigo ficou neste estado...

E pronto. Só falta despedirmo-nos até uma nova ocasião. O meu muito obrigado ao Carlos e ao Carvalho por terem proporcionado esta bela confraternização.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A nossa sala de visitas

Cada vez que olho a Avenida dos Aliados, sempre uma tristeza me invade. Não canto o Fado, mas rogo pragas ao Presidente da Câmara Rui Rio e ao Arquitecto mundialmente famoso, Siza Vieira. Como foi possível terem transformado este belo espaço, numa coisa cinzenta, triste, sem atractivos, sem verduras, sem cor... O supostamente chamado lago com catarata, não sei se é assim que se chama oficialmente nos registos camarários, é de uma falta de gosto tremendo. Gostam dele as gaivotas e pombas que por ali andam, para tomar banho e beber daquela água sempre cheia de porcaria.
Foi dito à população que este espaço foi criado para se encher de visitantes, produzir grandes concertos. Pois ali está o espaço para constantemente se exibirem barracas, seja de organizações político-sindicais, de venda de bebidas, ou outra coisa qualquer. Concertos ? No S. João e no Natal. Ou alugado (?) para ser produzido um cd de um grupo musical. Visitantes ? Só do lado do passeio da sombra no verão. No inverno só mesmo por necessidade se anda por este triste espaço.
Que slogan mais caricato. Mas tudo serve para fazer dinheiro para a Câmara, mesmo que depois seja para distribuir pelos velhos condutores de antigos fórmula 1, do tempo da Maria Cachucha, alguns com mais de 70 anos, que até há um ano vinham de borla, mas que o sr Presidente resolveu obsequiar com uns simpáticos milhares de euros. E claro, em cada carro um slogan destinado não ao Presidente da Câmara mas ao homem "bom" Rui Rio. Vaidades.
Lisboa teve as suas Vacas. O Porto não podia ficar atrás.
Descendo a Avenida até à Praça da Liberdade, um "génio" mandou fazer umas dezenas de bonecos iguais e mandou outros "génios" das artes plásticas vesti-los. Chamam-lhes Homem T.
Ou Homem Total e cada "génio" fabrica o seu conceito de Homem.
Bem faz a Menina Nua na sua beleza plástica, que lhes atira um sorriso de desdém.
De dia, ainda se conseguem ver os mamarrachos, mas de noite parecem almas penadas que se passeiam pela nossa sala de visitas.
Vão leiloá-los. Não sei para quem é o dinheiro. Mas o sr. Presidente da Câmara deveria arrematar uma dúzia deles para os colocar nas escadas de acesso ao seu gabinete para lhe servir de guarda de honra e assim recordarem ao Homem Total a porcaria que anda a fazer por esta cidade.




terça-feira, 8 de setembro de 2009

As Vindimas no Douro

Há coisas que imaginamos e queremos realizar mas nunca o conseguimos. Já consegui realizar alguns sonhos, bem antigos. Agora consegui realizar outro. Participar de uma vindima no Douro. Pois digo que é uma coisa do outro mundo. Não é possível descrever, o que se sente nesta altura, naquelas terras.
Acordei cedo neste domingo, ainda a Lua estava alta. No ar um cheiro a môsto que embriaga. Olhei lá para o fundo das serranias, mal vislumbrando os seus contornos.
Por cima do Rio Douro, a neblina matinal percebe-se nitidamente. Só desaparecerá com a outra neblina, aquela permanente que nesta altura cerca os montes, dando-lhes uma cor que deixa a garganta seca.
Aqui não chove desde Junho. As uvas não encheram como deveria ser. Mas a sua doçura enjoa os paladares mais sensíveis.
As uvas estão do meio da videira para baixo. Os cachos entrelaçaram-se nos arames. As gavinhas misturaram-se. Mas é preciso cortar o pé mais curto possível. Ou então por partes. Algumas uvas esmagam-se nas mãos, por muito cuidado que se tenha. Pelo menos a mim. O melaço cola a tesoura à mão.
Já doem um pouco as costas e as pernas. Começa-se pelo fundo da encosta e vai-se cortando até ao cimo. Onde a meio da manhã nos espera um almoço tradicional: Sardinhas, batatas cozidas, broa e vinho. Não resisti à tradição. Um pouco de descanso, fumar um cigarro e regressar à luta.
Individualmente vamos deixando as uvas em baldes pequenos, que posteriormente se vazam para baldes de 60 a 70 kg.
Que moços transportam encosta a cima ...

... até os deixarem na camioneta que transportará as uvas até ao lagar, ou à cuba que fará o seu trabalho.
Mudando de vinha, o processo é igual. Só que esta tem a característica de ter sido plantada em paralelo e não na vertical, em relação ao monte. O pessoal parecem mosquitos, que mal se diferenciam, no meio dela.
Fiquei impressionado pelo trabalho, que já tinha imaginado. Especialmente por conhecer parte destas terras da Quinta da Senhora da Graça.
Contaram-me que antigamente e não vai há muitos anos, quando não havia carrinhas nem os caminhos actuais, que só de andar neles meia dúzia de metros ficamos com tonturas e os pés todos arrasados, o transporte das uvas eram em cestos de cerca de 100 kg e teriam de ir à Régua para seguirem depois para a Quinta do Judeu, onde eram pisadas. Conheci este itinerário por estrada. Imaginei os caminhos antigos. Pelos montes deverão ser cerca de 12 km. Cada homem ganhava a sua jorna mas teria de fazer 5 vezes o trajecto. Havia um, ainda vivo, que transportava 2 cestos e ganhava 2 jornas. Por tudo isto, o Vinho do Douro e do Porto tem de ser muito bom.
Por alguma razão o Marquês de Pombal, no século XVIII, decretou esta região demarcada. A primeira no mundo de vinhos únicos e de alta qualidade.










domingo, 10 de maio de 2009

O Fado


Hoje voltei ao Fado.
Não tenho vergonha de dizer que só comecei a apreciar e a gostar de ouvir o Fado no final dos meus tempos de ex-combatente em África. Acabava de sair o Álbum do Carlos do Carmo, por Morrer uma Andorinha. Antes, era um género musical ao qual não dava apreço. Embora sempre houvessem camaradas lá na terra distante que tinham uma viola ou uma guitarra e me tentavam seduzir para o Fado. Isto foi nos finais dos anos 60.
Do século passado.

Mas foram os finais dos anos 70 que verdadeiramente me levaram às Casas de Fado. Principalmente em Lisboa. Posteriormente, na minha cidade, o Porto, acabei também por ser ouvinte e participante assíduo. Mas o melhor do Fado era depois das casas fecharem. Dividiam-se conversas, ensaiavam-se novos temas, buscavam-se arranjos. Ou então partia-se para um petisco para recompor a noite. Grandes amizades fiz. Algumas já se foram deste mundo. Recordo com especial saudade o Duarte Marceneiro e o Jorge Barradas, dois bons amigos.
Mas adoro o Fado Vadio ou Fado Amador. É cantado por não profissionais em tascas, pequenos restaurantes ou até em clubes ou lugares onde se reúnem, por puro prazer, músicos e intérpretes de vários estilos de Fado. Por vezes a horas já adiantadas da noite.
Há já muito tempo que não faço parte destas tertúlias. Mas aconteceu um dia destes, até por casualidade, ser brindado com uma sessão de Fados Amador. Dois excelentes músicos e um cantor de Fado Humorístico. Entre uns belos arranjos em Variações, uns Fados brejeiros. Fez-me recordar velhos tempos. Tenho de repetir a dose.
Mais uma casualidade. Vim encontrar um ex-camarada das andanças por terras guineenses.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O Piolho e os Políticos

Há dias, durante uma das minhas passeatas, fui dar ao Âncora D'Ouro, mais conhecido pelo Piolho, local de contestação política especialmente durante o período da ditadura.

Manuel António Pina, em artigo de Opinião publicado no JN escreveu o texto que tomo a ousadia de transcrever:

"Balada do café triste"
2009-03-17
Somos feitos de memória. E talvez, quem sabe?, de sonho. Mas também os nossos sonhos são provavelmente memória, pois que a imaginação é, como observa Borges, uma espécie de arte combinatória da memória, e os sonhos de futuro construímo-los sobre os desejos e os medos do passado. Por isso os políticos sem passado (como diria o futeboleiro Octávio Machado, vocês sabem do que estou a falar) tão ansiosamente procuram, seja evocando acontecimentos que não viveram seja citando livros que não leram, inventar para si alguma forma de passado.
Pelo Café Piolho, agora centenário, passou, pulsante de sonhos, grande parte da geração responsável pelo nosso sujo e mesquinho presente, e pergunto-me muitas vezes como foi possível que tantos se tenham entretanto transformado naquilo que combatiam. No próximo sábado, pelas 17 horas, está marcada para o Piolho uma tertúlia sobre as lutas estudantis, de que o lugar foi, nos anos 60, um semovente quartel. Será um encontro melancólico, povoado de fantasmas, pois se o Piolho é, para muitos, memória de fidelidade a si mesmos, para outros é o emblema da traição.