domingo, 22 de agosto de 2010

Viajar no tempo

35 - O Mosteiro e Quartel da Serra do Pilar - Vila Nova de Gaia

Hoje n�o tinha premeditado vir para este lado de Gaia. Mas as coisas acontecem e pensei que talvez acabasse por ter alguma sorte dando um salto at� � Serra do Pilar. S� para ver se o Mosteiro ou Convento estava aberto, coisa que nunca aconteceu das vezes que at� aqui vim. Ora como Monumento - n�o sei se Nacional - a quem o Estado Portugu�s larga grossas fatias do nosso dinheiro (segundo li) e estando n�s na �poca de turismo, seria l�gico que tal acontecesse. Engano puro. Mas passemos adiante. Vindo de S. Bento (quer dizer, da Pra�a Almeida Garrett) num autocarro que atravessa a Ponte do Infante, sa� qu�si � porta do RA5. Para os meus camaradas que por aqui passaram nos velhos tempos do chamado RAP2 a caminho de �frica (criado em 1939) um abra�o. Mas esta unidade foi primitivamente o Regimento de Artilharia do Porto, passando a RA n� 4 em 1806 e extinto em 1829. Teve muitos outras nomes desde que foi criado por Decreto da Rainha D. Maria II em 1835, por ter o Mosteiro da Serra do Pilar grande destaque como fortifica��o do Porto durante a Guerra Civil. Entre Penafiel e o Porto, mas no fundo quer dizer Gaia, v�rias unidades foram transferidas de l� para c� e vice-versa. Em 1975 passou a RASP e finalmente em 1993 � o actual RA5.
Mas eu vinha procurar o Mosteiro.
Temos de descer a rua ao longo do muro do Quartel cerca de 50 m e a placa n�o engana. Mosteiro da Serra do Pilar. Os panoramas j� eu os conhecia.
Dobrando a rua para Norte, nova placa encaminha-nos certeiramente.
A meio da cal�ada a vista da c�pula da "Nova" Igreja.
Atento ao que se passa, um elemento militar de servi�o � Bateria voltada para o Porto.
Uma raridade ao longo da cal�ada, estas flores obrigam-nos a olhar o Jardim do Morro.
E c� estamos n�s, no largo da Igreja, que tem nome pr�prio do qual n�o me lembro. Por ali ainda est�o sinais de palco e outras coisas, incluindo o fontan�rio "fechado" a pl�sticos, da �ltima romaria da Senhora do Pilar, efectuada no dia 15.
Mas tudo fechado, como nos primitivos tempos de 1140, onde foi fundado um mosteiro neste local em que as freiras seguiam a norma de reclusas emparedadas. Durou at� ao s�c. XIV quando deixou de haver freiras com esta voca��o. Tamb�m viver entre quatro paredes, mais tecto e ch�o, s� com um buraco para se lhes ser servida a refei��o... durante o resto das suas vidas.
Resta-nos apreciar o exterior e na foto � a Primitiva Igreja, ao lado da qual foi constru�da em 1598, a actual. A imagem de Nossa Senhora do Pilar foi colocada no altar-mor em 1678.
Outro pormenor da Igreja Primitiva.
Na Guerra Civil ou Lutas Liberais ou Guerra Fratricida, tanto faz, (D. Miguel x D. Pedro IV), durante o Cerco do Porto - 8 de Setembro de 1832 a 18 de Agosto de 1833 - a Igreja (a nova, tanto quanto me parece entender a escrita do autor) sofreu muitos danos. A� entram os homens bons devotos - de Gaia - que apresentaram � Rainha D. Maria II o projecto de uma Confraria, que foi aprovada em Setembro de 1844, ficando com o lindo nome de Real Irmandade de Nossa Senhora da Gl�ria do Pilar.
E em 1925 um Comiss�o de Amigos do Mosteiro conseguiu "n�o s� realizar muitas beneficia��es na Igreja com o restaurar o antigo Claustro do Convento constru�do em 1692, em forma redonda como a Igreja, �nico no Pa�s. Tamb�m foram restauradas v�rias depend�ncias do mosteiro que estavam em ru�nas, para guardar muitas raridades que nelas (nas ru�nas ?) estavam � sua guarda".
Agora vem a parte que nos toca a todos: "O Governo (ser� o Estado Portugu�s ? ser� mesmo o Governo ? neste caso, qual e quando ?) notando a beleza arquitect�nica da igreja e do mosteiro da serra do Pilar, incluiu-a no n�mero dos bens nacionais; e por isso tem despendido importantes quantias na repara��o de t�o magn�fico monumento religioso".
Esta e mais prosas podem ler-se em http://tvtel.pt/gaiserv/livro cale/pagina18.htm
Tive que fazer umas redu��es a essas prosas - que cheiram tanto a n�o sei qu� ...- assim como acertar alguns erros que por l� se l�m. Mas o importante � que tudo est� vedado ao olhar do simples turista, (ou de um curioso como eu) que de mapa na m�o, sobe aquela cal�ada para n�o ver o que os papeis tur�sticos dizem de mundos e fundos belos.
Mais um monumento que existe s� para prazer (ser� que o t�m ?) de alguns. E j� agora gostava de saber se as raridades ainda existem ou se sofreram desvios como tantas outras que aconteceram n�o s� no Porto como por todo o Portugal
Mas vamos saborear as vistas da Cidade do Porto que de l� se avistam. O que j� � muito bom, digo eu. Aqui � da Ribeira at� � Arr�bida.
Aqui, a velha Cal�ada da Corticeira, a que chamam agora Rua das Carqueijeiras. Talvez uma homenagem �s mulheres que subiam aquela Cal�ada, com molhos de Carqueija � cabe�a, para os muitos fornos da Cidade das mais variadas industrias. As Fonta�nhas est�o l� no alto.
Agora descemos mas a p�, pelas ruelas da Serra, Rua do Casino da Ponte, do Cabo Sim�o etc. e olhamos o belo rendilhado da Ponte Lu�z I.
J� do lado de c�, quer dizer do Porto, depois de atravessarmos a Ponte, uma �ltima panor�mica do Mosteiro (ou Convento) e Quartel da Serra do Pilar. Chamem-lhe os nomes que quizerem ao Regimento, mas � assim que perdurar� nos tempos.
Para descansar, nada como "pousar" no Mira Douro, mesmo no final do Muro da Ribeira. Bebe-se a cerveja mais barata de toda a Ribeira e Arredores. Os lanches e as refei��es, idem. N�o tenho descontos nem comiss�es; mas � paradeiro antigo desde o tempo em que tinha a mania de que era pescador.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ao correr da pena

Mãos amigas têm-me feito presentes que francamente não sei como agradecer. Lucci Belló quer que edite um livro que terá este aspecto. Obrigado minha amiga pela maqueta. Vou começar a pensar nisso.
Espero ter uma camiseta reservada com este maravilho aspecto, produção da amiga F. de Holanda, que há um mês teve a gentileza de me mostrar o seu trabalho.
Pena já não ser muito útil. Mas em 2.014 ela voltará às bancas.
Especialmente recomendadas para a Lu de Juazeiro, que está em Liverpool a fazer uma dieta de comida para grilos e afins, estas iguarias que devem ter sido inventadas pelo menos há dois séculos. Se é onde eu penso, no local onde se situava esta Casa, estava ainda há uns 20 anos, um pequeno café, onde não conheciam o famoso Cimbalino do Porto. Eram só "Bicas" e "Garotos". E "Italianas". Mas tinham uns pasteis de nata que não ficavam nada a dever aos de Belém.
Aqui iniciava a minha subida matinal para a Gomes Freire. Estão a pensar em quê seus libidinosos. Nem ia à PJ nem ver os "meninos" transformados em "meninas".
Do Canadá, e em primeiríssima mão, o camarada Luís Guerreiro fez-me chegar esta edição do África Adeus. Desculpa meu amigo, mas acho que não terei coragem para ler o que em breve deve ser um Best-Seler. Mas se tivesse uns prefácios e prosfácios do Jorge Jesus e do Prof. Marcello era mais que garantido.
Mas falemos de coisa sérias.
Não, não é do filho do Ronaldo nem da mãe incógnita. Nem da namorada russa que lhes perdoa aos dois, talvez deva dizer aos três, e que está mesmo, mesmo a chegar ao Algarve para ajudar a criar o pimpolho. Para essas coisas existem os jornais e s TV's, sejam ou não pagas por nós, para nos darem a conhecer, em grandes manchetes e reportagens, todas estas estórias.
Então, deixem-me seguir.
Da minha amiga Gisele, a Claudinha, a carioca mais portuguesa de todo o Brasil, recebi a foto desta linda pintura de sua autoria: Porto na Flor é o título que lhe deu. Parabéns querida amiga e o meu obrigado por gostares tanto do meu Porto. Para os que não conhecem a Cidade, a imagem dentro de flor é a Ponte da Arrábida.
Por último, uma saudação muito especial para a amiga Alda, gaúcha de dois costados, pois os outros dois são de Portugal e especialmente do meu Porto. Amante da natureza, saudosa das nossas sardinhas, enviou-me entre outras, esta magnífica foto. Obrigado amiga querida.
S O C O R R O

Sou a Mãe Natureza,
pari MEUS FILHOS e te ofertei de graça
espalhanfazer-os pelo mundo.

Que fizeste? Onde estão?
Os rios,
São lágrimas tingidas e poluídas.
O lixo nossa degradação
é Sangue do coração no Sufrágio das Águas.
O verde das matas,
geradores de oxigénio e abrigo,
jazem incinerados no funeral de fauna e flora,
clamando por um castigo.

Carvão das Consciências
Destruindo a Existência.

Choram Lágrimas Ácidas, das nuvens modificadas,
e A Chuva, sem paciência, já não cai benfazeja.
Relampejam os astros
em motes como desencontradas.

Morre o ventre da terra
e os desertos se expandem.
Ondas e Marés respondem
e avalanche de mil destruições.

Onde estão as aves de canto,
onde o Verde que é Vida
Onde invernos e verões,
Com Tanta oferta perdida?

Alda Paulina - 17-03-2010.












quinta-feira, 24 de junho de 2010

Carta ao Victor

Querido amigo e camarada
Encontraste-me ao fim de 36 anos porque viste um escrito meu e a foto de uma menina que ambos conhecemos em África, lá no fundo da Guiné, em Catió, filha dos nossos saudosos amigos Barrinhos.
A partir dessa altura, conversamos muito e acabamos por nos rever pessoalmente em Maio de 2007. De muita coisa falámos, procurámos gentes, que gentes procuravam. Conseguimos pistas, trocámos contactos, enfim, andamos por aí.
Quando comecei a ter tempo para descobrir a fundo o meu Porto, foste dos primeiros a ver as minhas fotos, que elogiaste. Disse-te que havia coisas que não conseguia, por mais que tentasse, fazer bem. Uma delas era a foto da casa nº 4 da Rua de S. Miguel, forrada com azulejos do séc. XVII que saíram do Convento de S. Bento. Disseste-me que um dia haveria de o conseguir.
Esta casa bem fotografada tornou-se como uma espécie de obsessão. De dia ou de noite, nunca consegui fazer obra asseada. E mandava-te as fotos para veres. Dizias sempre, tem calma, um dia consegues.
Em 14 de Maio, dia da visita do Papa à minha cidade, fui para a Vitória fazer as "Fernandinas" e obriguei-me a ir fotografar a casa. Pensei para mim: É hoje Victor. Mas não tive coragem para te enviar as fotos. Dias antes tinhas escrito aos teus amigos para seleccionarem os emails que te enviassem. Falamos sobre isso e eu retraí-me.

Ainda não consegui a tal foto. Mas continuarei a tentar e quero que saibas, querido amigo, que no momento de disparar estarei a pensar em ti.
Até qualquer dia, Victor.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O Presidente da República que temos

Fiquei surpreso pelas declarações proferidas pelo Presidente da República Checa aquando da visita que o nosso Presidente Cavaco Silva recentemente fez aquele país. Entre a surpresa, o choque e o regresso à "normalidade", perguntei-me se era possível, em diplomacia, durante uma visita de estado, proferirem-se tais afirmações sobre um País, neste caso o nosso, relativo às contas públicas.
Ditas e reafirmadas, pois duas vezes o senhor Presidente Checo o fez e ainda por cima em tom jocoso. Do mais ordinário que já vi e li. Tratando-se de um encontro entre Chefes de Estado durante uma visita oficial - e nem que o não fosse - mostrou o anfitrião as suas origens de servidor (?) de um ex-estado totalitário arrogante, do pior que o mundo já sentiu e que a democracia não limou.
Mas o meu choque foi ampliado ao ouvir a "labreguice" do nosso Presidente da República, declarando coisas sem nexo, como se aquela afronta do desmiolado senhor checo não nos atingisse como Portugueses.
Fico com vergonha deste nosso presidente que não soube responder, mas pior que tudo, fingiu que não estava lá.
É este servidor que temos. Seja qualquer for a crise ele não sabe, não vê, não ouve. Não merece ser o Presidente de todos os Portugueses. Não é sequer um político. E nem homem deve ser. Esses têm-nos no sítio e sabem dar um murro quando é preciso. Eanes, Soares ou Sampaio saberiam o que dizer e como agir.
Está em curso a campanha do nariz vermelho. Dêem um ao sr. Cavaco para a campanha dele. Mas digam-lhe como o usar, pois ele pode pensar que é para utilizar como preservativo mas no sítio errado.

domingo, 25 de abril de 2010

As Gatas do Álvaro

O Álvaro é um companheiro com quem criei fortes laços de amizade, desde que nos conhecemos em Abril/Maio do ano de 70 do século passado. Tem por alcunha o Brasileiro, porque viveu e trabalhou 16 anos no Brasil.
Acompanhou o meu crescimento fotográfico, fez-me muita companhia nas andanças atrás de "bonecos" e a reportagem que fiz sobre a Igreja dos Clérigos deixou-nos boas recordações e risotas. Mas houve mais, como a da Casa do Infante.
Claro que não só de fotografia vive o homem, e então eram frequentes as nossas paragens pela Tininha do Mercado de Gaia, pelo Louro, pela Casa das Iscas (a Viúva) da Ribeira, pelo Quim, pela Império, pelo Os Compadres, etc. etc.
Nos 1ºs de Maio lá estávamos para uma bela passeata e melhores almoçaradas. Na Noite dos velhos tempos também fomos companheiros de grandes sessões fadistas.

A partir de determinada altura, o Álvaro fugia cedo, com a desculpa que tinha de ir tratar das "Minhas Gatas". Deixava-me intrigado, mas aceitava, que remédio.
Mais tarde vim a saber que, sim senhor, realmente existiam gatas na história. Gatas mesmo, das peludinhas, de quatro patas.
Continuamo-nos a encontrar, mas infelizmente muito menos e em casa dele.
E finalmente descobri o "mistério" das Gatas.
O Álvaro tinha um tio, do qual era a única pessoa de família. Por isso olhava pelo velhote. Que entretanto faleceu. Foram encontradas no quintal da sua casa, 3 gatas pequeninas, sem mãe, e que o Álvaro não teve coragem de deixar para lá. Então adoptou-as, levando-as para a sua casa.

São as donas da casa mas têm as suas obrigações.
Naquela altura, do início da história, o Álvaro vinha realmente para casa para tratar das bichas.
Tive ocasião de as fotografar agora. Mas há uma mais arisca que não gosta de fazer parte fotogràficamente da história. É totalmente diferente das manas. Listada de cinzentos-esverdeados-pretos, é também uma bonita virgem.
Agora só falta o Álvaro poder sair de casa para continuarmos as nossas andanças interrompidas.
E já não precisa de ter cuidados com as suas queridas gatas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O Regresso - 8/9 de Abril 1970

A esta hora, há 40 anos, via de novo as luzes de Portugal Continental, ou da Metrópole, como se queira. Ao largo de Lisboa, esperava ansioso a hora, que seria no dia seguinte, de descer as escadas daquele barco que me levou e me trouxe. Queria uma nova vida e esquecer os três anos passados e mais ainda os últimos dois. Era a hora do chegada. Não queria mais lembrar África, nem a Guiné. Não queria mais aquelas roupas, que fui obrigado a usar e que obrigatòriamente comprei com o meu dinheiro.Queria que aquele cheiro saísse do meu corpo, não mais lembrar os sítios por onde passei, esquecer que usei uma arma; afastei-me dos homens que estiveram ao meu lado. Fingi que não vi feridos nem mortos.Tudo em vão. Passados estes anos, lembro as chuvas e os tufões; os ataques, as emboscadas, os patrulhamentos, as colunas; a falta de comida e a luta por ela, contra a ganância dos oficiais e sargentos profissionais; a falta de munições e a falta de preparação militar e psíquica do pessoal.Relembro o Salvado, sepultado num cemitério de Setúbal. Lembro dos outros que foram evacuados, cujos nomes esqueci. Lembro dos que julguei mortos e o destino ressuscitou e quis que os viesse a encontrar vivos. Lembro das cartas que escrevi, quási sempre com uma foto:
Como vêm, queridos pais, queridos irmãos, querida namorada, estou bem. Isto é uma maravilha. Bebendo a minha cerveja fresquinha. Enquanto vos escrevo.

...Olhai, que bela paisagem, a foto é de um pequeno rio que tem um cais onde atracam os barcos que nos trazem de comer.

...Um arrozal em pleno desenvolvimento. Pena não poderem ver as belas cores.
Catió, tantos de tal...
...Aqui é o posto construído pelos meus rapazes. Tem uma vista linda sobre a bolanha.
Bolanha, como sabeis, é... etc e tal. Catió, 4 de Dezembro de 1969.

(Não convinha nada dizer que este posto-abrigo foi feito enquanto estive internado no HM) Lá vamos nós a passear pela estrada até Gandjola fazer um reabastecimento. Parece uma procissão.
O santo vai na Daimler, pelo sim pelo não.


...Queridos Pais: Hoje levei o meu pelotão até este caminho lindo, para uma foto de recordação. Para brincar à séria, o meu alferes tem um rádio que se ouve até no Porto se for preciso. E o cãozinho é um dos muitos que sempre nos acompanham.
(o que se tinha de inventar para em casa não se aperceberem de como era a vida)


...Outra paisagem linda.

Esqueci de referir na carta que foi deste local que tive o meu baptismo de fogo. 6 de Junho de 1968. 21 horas.
Mal se vê, mas ao fundo está Catió. Reconhecimento do local

E sempre uma carta para os amigos:

Lindas bajudas depois da pesca e banho.

Sempre a lembrança de um dia especial, que fazia doer o coração:

...Olha mãe, no dia dos seus anos. Que festa fizemos a comemorá-los . Catió 12 de Junho de 1968.

...Hoje fui com uns amigos visitar umas ruínas de uma antiga fábrica de descasque de arroz.
A coisa não foi bem assim. Estava eu de vague-mestre ao rancho, imposto claro, e andava à procura de comida. Claro que a população nos era hostil e não vendia nem um frango para 4, quanto mais uma vaca ou um porco, para 100

Detestavamos o governador (chefe de posto). E porquê ? Porque foi fazer queixinhas ao comando só porque lhe assaltamos a quinta onde produzia ananazes.
Mandaram-nos do comando não sei o que fazer. Saímos ao princípio da tarde e já era noite e a rapaziada estava cheia de fome. Estávamos lá no meio da quinta. Eramos piras, com menos de uma semana de Catió. Não nos deram de comer nem ração de combate. Julgávamos que aquilo era nosso. Que havíamos de fazer...
Mato é mato, seja do governador seja de quem for.

Por estas e por outras, afinal nunca mais esqueci a Guiné. O cheiro acho que ainda o tenho, as saudades também. E sinto mais que nunca as recordações daqueles homens com quem mais de perto convivi durante 2 anos.
Alguns, poucos, já encontrei. Mas quero mais.
Alguns camaradas que com mais assiduidade convivo ( O Teixeira, o Cancela, o Carvalho velho, e outros de que não me lembro agora ) viajantes como eu no mesmo barco e nas mesmas datas, foi a Tabanca de Matosinhos que nos fez reencontrar. E recordar esses tempos, embora nunca nos tivessemos conhecido nem no barco nem nas bolanhas da Guiné.

Outros vou tendo contactos aqui pela net ou pelo telefone. Até das Américas: Alô Tobias ...
Mas devem sentir como eu, sempre que passa uma data, uma certa nostalgia dos nossos vinte e poucos anos.
Um abraço para todos os camaradas .

terça-feira, 23 de março de 2010

Culinária - Receita do Chefe Mário

MEDALHÕES DE BORREGO CAMPESTRES
Ingredientes ( 4 Pessoas )
8 Medalhões de borrego
300 grs. de Batatinhas
200 grs. Cogumelos frescos
20 grs. Manteiga
0,5 dls. Azeite virgem
5 dls. Vinho tinto
16 Chalotas (cebolas pequenas)
q.b Sal marinho q.b Pimenta branca
1 Raminho de tomilho
1.º - Coza as batatinhas em água e sal. Depois de cozidas retire da água deixe secar e reserve.Tempere os medalhões de borrego com o sal e pimenta. Lave os cogumelos, deixe escorrer e depois enxugue-os com um pano de cozinha.
Leve ao lume uma frigideira com a manteiga e o azeite. Deixe aquecer e depois junte os medalhões. Deixe fritar, de ambos os lados, até ficarem ao seu gosto. Retire-os e mantenha-os quentes.
À gordura que ficou na frigideira, adicione as cebolinhas descascadas, os cogumelos. Deixe cozinhar até estes libertem todo o líquido.Em seguida, adicione o vinho tinto e tempere com sal, e pimenta e tomilho. Deixe cozinhar até o molho ficar cremoso.Pele as batatinhas e saltei-as em manteiga e azeite, até corarem.Disponha os medalhões, as cebolinhas, os cogumelos. e as batatinhas num prato de servir e regue tudo com o respectivo molho. Sirva decorado com tomilho. E é só comer, digo eu.

Só para amigos, aqui fica o link da página do meu ex-camarada e Grande Chefe Mário Pinto, com receitas deliciosas.

http://tachoalume.blogspot.com/


A não perder


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Recordações do passado, vividas no presente

Não posso precisar ao certo quando foram uma das grandes cheias do Rio Douro nas cidades do Porto e Gaia, que eu registei numa velha Agfa 6x9 do meu pai e cujo rolo dava para 8 ou 9 fotos. Já não lembro. Mas creio que foram no ano de 1963 ou 64. Em Fevereiro. Portanto há mais de 45 anos. Se estou enganado, que me corrijam. Se estou certo, agradeço que o façam, pois gostaria de registar a data correcta.
No interior dos Arcos da Ribeira, numa daquelas ruas de que nunca sei o nome, mas creio que é a dos Canastreiros, existe um comércio que à porta tem registadas todas as grandes cheias, com a data e a altura até onde chegaram as águas do Douro. Tenho no arquivo a foto, mas não consegui encontrá-la.
Pois bem, há uns dias, aproveitando uma acalmia no tempo que vem fustigando a cidade, resolvi refazer o trajecto que na altura presumo ter feito, para comparar como estão as duas margens do Douro. Aqui vos deixo os registos fotográficas das duas épocas, embora nas antigas estejam bem marcadas as cheias e noutras o Rio Douro quási normal. É que as barragens entretanto feitas, controlam as suas águas.
Um facto a reter: a velha Agfa tinha uma objectiva com um zoom bem curioso, fàcilmente notando-se as diferenças. Para os leigos da fotografia, essa máquina apenas regulava as distâncias, por exemplo: de 1,5 a 3 m; 5 a 7 m; infinito. E as aberturas da lente eram reguladas para sombra, sol encoberto, ou sol pleno. Isto em três símbolos. As fotos em papel foram digitalizadas pelo meu amigo Manuel Carmelita a partir das provas 6x9 cm. e lògicamente que perderam nitidez. Mas devo dizer que os originais são de uma nitidez muito grande, bem revelados e fixados, e que ao longo destes anos não perderam a sua qualidade no papel. Hoje temos as digitais, a cor, os photoshops (que não gosto de utilizar), embora faça algumas correcções a partir do Picasa2 ou da Galeria do Windows. Especialmente o "endireitar". Simples e barato.
Pois então vamos ao percurso que provàvelmente fiz na altura. Devo ter subido a Avenida da Ponte, conforme lhe chamávamos na altura, hoje é a Avenida Saraiva de Carvalho. Presumo eu que ainda assim se chama... Passei ao lado da Sé e entrei directamente no tabuleiro superior da Ponte Luíz I. A imagem é a da Avenida Gustavo Eiffel, com a Ponte D. Maria ao fundo. Na foto recente há umas ligeiras diferenças de local, pois o percurso não foi o mesmo, já que nos dias de hoje não tenho coragem de atravessar o tabuleiro. Por isso utilizei o metro e o funicular. Modernices... E nem mais um passo...Por baixo, os Guindais. Claro que há agora a Ponte do Infante a obstruir, visualmente, a de D. Maria. Mas ela ainda lá está e renovada desde há dias. E linda como sempre.

Já do lado de Gaia (ido de metro, claro), voltei-me para os Guindais e Fontaínhas. Lado direito da Ponte. Nos tempos antigos, não se vê a sombra do tabuleiro. Mas fiz a foto de tarde, isso tenho a certeza. E porque tenho a certeza ? Porque de manhã gostava muito da cama. Como ainda hoje. De qualquer forma podem-se notar as sombras, de poente para nascente.
Estas comparações também mostram que a cidade evoluiu em termos ambientais. Um dos muitos ribeiros que vinham desaguar ao rio com os esgotos, já não existem. As etares tratam do assunto.
Do outro lado, à esquerda da Ponte, logo abaixo do Jardim do Morro, vê-se comparativamente, como o Cais da Ribeira está submerso. E os batelões ainda aqui vinham fazer as suas descargas de mercadorias.
Lá do Jardim do Morro, o percurso para descer até ao início do Cais de Gaia teria duas hipóteses. Como hoje. Não sei qual adoptei na altura, mas agora desci pelo lado da Serra do Pilar, isto é, pela direita da Ponte.
A velha árvore lá está, aguentando todas as cheias e vendo a evolução do Cais, hoje um belo passeio pedestre, onde se pode comer ou apenas beber um copo, olhando o Porto em frente.
Voltando a atravessar o rio por baixo (nossa forma de expressão quando regressamos, ao Porto ou a Gaia, pelo tabuleiro inferior da Ponte Luíz I), uma foto mais próxima da Ribeira. Por Cima do Muro, estão ali casas novas, que nem eu sabia que existiam há 40 e muitos anos. Quer dizer, reconstruiu-se e modernizou-se (?) e muito bem, toda esta zona, onde até há um Hotel de 5 *****. Para além dos restaurantes e bares, também as tascas ainda lá estão, onde as célebres "iscas" da Ribeira não perderam a fama.
Já do lado do Porto e em cima das Escadas do Codeçal, volto a recordar a Gustavo Eiffel, partindo desde a Ponte D. Luíz até ao Freixo, mas agora passando por baixo de quatro pontes e não uma apenas conforme era naquele tempo.
Nota-se novamente o zoom da velha Agfa. Parece que a Capela do Senhor de Além estava logo ali.
Pela escarpa da Serra, vêm-se agora as inúmeras habitações, que de clandestinas passaram a legais. E a própria escarpa está também protegida. Polémicas para trás e para a frente, mas os inteligentes lá se entenderam. Espero eu, que para sempre, pois senão haverá tragédias.

















quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Fui à Feira a Gondomar

Já tinha saudades de uma passeata por uma boa Feira, onde de tudo se vende. O tempo tem estado bom, de sol que não de frio, mas este não conta para baixar a moral.
Mas logo vejo uma beleza com a cabeçorra enfiada entre as grades. O bicho, ou bicha, quando me aproximei nem se mexia. Fiquei a pensar que não conseguia sair de lá. Toquei à campaínha para chamar a atenção dos patrões, mas ainda bem que ninguém atendeu. O animal salta-se de lá com um vozeirão próprio de cão macho (?), que se eu fosse homem de sustos, caía para o lado. Palavra vai, ladrar vem, combinamos uma pose para contar a estória. E para comparar a largura das grades com a sua excelentíssima cabeça, ele (ou ela) abriu só um pouquinho a boca num sorriso também para mostrar que estomatològicamente falando, anda bem tratado(a).
Recomposto, prosseguindo, vou dar ao Chafariz do Largo do Souto. Com o sol em contra-luz, fiz um boneco só para ver no que dava. Portuensemente falando, deveria dizer o que deu, mas poderia ferir susceptibilidades mais frágeis. Fica ao paladar de cada um (ou uma), achar o que acha.
Antes que esqueça. Francamente, agora tenho medo de escrever. Com o novo acordo ortográfico, onde se retiraram letrinhas a palavras, bem como acentos, já não sei o que deva usar para exprimir o meu pensamento. Mas se entretanto os meus queridos leitores e leitoras acharem por aí uns errositos é só avisar. É que o corrector (outra palavra complicada que não sei se leva o c ou não) ortográfico cá desta coisa, não funciona à maneira. Mas como se pode sempre editar, não há problema de maior.
Acompanhem-me então pela Feira.
E nada como um conjunto de belas cores a abrir. Com o magnífico tom de azul do céu em fundo (redundância, pois não há cor de céu vermelho nem verde) o contraste é flagrante. Lindíssimo.
Uma passagem para apreciar os últimos modelos na Boutique do Alex. É LOVE por todos os lados. Começamos logo a imaginar coisas que não ficam bem numa Feira.
Mas este modelo prendeu-me as atenções. Fiquei parado a admirá-lo e logo Madame Alex veio de lá com o seu belo sorriso, perguntar se me servia. Fiquei sem fala e arranquei a grande velocidade, mesmo sem me despedir com o característico beija-mão. Espero que Madame não tenha rogado alguma coisa que me faça tropeçar no próximo cruzamento.
Aqui sim, é o meu local preferido desde há uns anitos. Páro, olho, reolho (será que existe esta palavra ?), cheiro... Sai um quarto de presunto de Lamego, que tem um kg bem pesado e um queijinho da Serra, dos pequenos, com 800 grs. Tudo por 17,70 euros, mas para mim que sou cliente vá lá, fica pelos 17,50. Bem quis que ela, a loirinha, velha conhecida, deixasse pelos 17, mas não foi em cantigas. Tira lá a foto e põem-te a penantes. Dá de frosques.
Lá voltei para a confusão dos produtos de ocasião, que sim senhores, fazem uma bela montra colorida. E tudo a 3 euros. Meninas, é pegar e andar, a caixa é logo ali.
Um olhar pelas plantas de jardim, onde uma bela camélia dá um toque senhoril. Ou não fosse a flor Portuense por excelência. Quem o diz são os Alléns e eu acredito porque andam no meio delas e com elas ao colo, há quási dois séculos.
Por falar nisso, tenho-me esquecido de fotografar as minhas, que estão lindas e carregadas. Amanhã, que já é hoje, será dia para isso, pois agora não dá. Passa da meia-noite, hora do Porto.
Neste lindo viveiro, belos mimos estão a ser transaccionados (mais um c que não sei se ainda se usa). Canteiros graciosos, coloridos, vão florir em breve. Primavera à vista...
Reflectir (cá está o c ) é bom. Mais um boneco só para ver o que dá. Maluqueiras...
Um olhar descontraído à arquitectura (outro c) gondomarense. Quási simétrico este conjunto. Foi mesmo ao calhas, até porque o passeio destinado aos peões é tão pequenino na sua largura, que não dá para paragens prolongadas e acertar cor, profundidades, enquadramentos. Sabem a que me quero referir...
Já fim de tarde, com o frio a apertar, segui a Lua que estava a aparecer. Já está cheia. Amanhã vai poesar só para mim.
Ela aqui aprisionada. Mas soltou-se rápido e sem ajuda. É assim a Lua. E luar de Janeiro, não tem parceiro. Mas os invejosos dizem, mas lá vem o de Agosto que lhe dá no rosto. Sabedorias populares, que se ensinavam não só em casa como também na escola dos nossos verdes anos.
A ver vamos.