quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dia Mundial do Professor

É amanhã, 5 de Outubro, que se comemora este dia.

Lembro-me com muita frequência da minha primeira professora, a Senhora D. Belmira, que me "fez" toda a Primária e dos seus olhos chorões quando se despediu de mim no ano em que fui operado, fiz a 4ª classe e a Admissão ao Ensino Preparatório. Ainda não tinha 10 anos.
Se não fosse ela, o meu gosto pela Matemática, pelo Português, pela História, pela Geografia, pela Leitura, provàvelmente não teriam sido os mesmos.

Certo, meu Pai foi outro mestre, não que me obrigasse a ser "marrão" ou "perdesse" muito tempo a ensinar-me. Mas há exemplos e conversas gravadas no nosso sub-consciente e lá ficam até ao dia em que nos recordamos delas. E os seus livros e jornais que me deixou ler foram um estímulo e complemento.

Durante a minha vida de estudante-saltimbanco encontrei outros professores marcantes e de histórias que ficaram gravadas. Como acabar com a simbólica e antiga praxe da greve geral no dia de S. Martinho da Oliveira Martins. Porque era do contra... qualquer coisa.

Na área de matemática uma professora deu-me 19 valores num exercício. Na sua correcção, o único erro assinalado não conferia com a minha opinião. Disse-me, tinha de arranjar qualquer coisa para não lhe dar o 20, pois assim seria considerado como sabendo tanto quanto eu. Aceitei perfeitamente.
Não sei quando, mas vim a saber que essa professora era irmã de um dos genros dos meus patrões. Mas não foi com "cunhas" que fui passando de ano. As minhas médias eram de 17 e levei com um 13.

Ainda nesta área, num dos anos fui explicador dos restantes companheiros. O centro de estudos era no Café do Bonfim ou aos sábados à tarde no Rialto. Curiosamente, com excepção de um colega, todos dispensaram da oral... menos eu. E a sala encheu para ver a minha prova, que quando entrou na Geometria, pedi dispensa porque não percebia nada do tema e nem tempo tive para estudar. O júri deu-me a nota positiva mais baixa do curso.
Claro que só foi possível ajudar os colegas porque os professores de outras disciplinas nos davam dispensas das suas aulas.

No último ano de francês, disciplina que nunca acabei embora com média final para exame -foi o medo de uma reprovação humilhante - tive um conflito com o professor Vaz, discordando do seu método de ensino. Trazia dos anos anteriores média de 14 e não havia maneira de me entender com ele. Um dia, irritado por causa de um 8, disse o que sentia e pensava dos métodos dele, como professor.
Todos os companheiros que assistiram à conversa foram de opinião ser melhor desistir do ano, pois consideravam já o ter perdido. E não se sabia se não iria ter um processo disciplinar. Que nunca aconteceu e continuei a frequentar as aulas.

No final do ano, preparo-me para o exame de Português. A minha média era elevada, não me lembro de quanto mas que mantive na prova escrita. A oral era obrigatória. Assisto a vários exames, anoto as características das perguntas e os autores que são de preferência do júri, três professores sendo um deles o Prof. Vaz, de francês. Na véspera do meu exame, o sorteio deu como último a interrogar o Prof. Vaz. Pediu Damião de Góis. Segui o exame do companheiro, abri o meu livro e fui fazendo anotações nas margens.
No dia do meu exame, jogava-se o Portugal-Brasil para o Mundial de 1966. Só vi um pouco do jogo enquanto lanchava no meu "tasco" preferido, o Onix, e segui para a Escola.
Na hora do começo dos exames faltava um elemento do júri. O Professor Vaz. Casado com uma brasileira, segundo explicou depois, teve uma discussão em grande lá em casa por causa do jogo (vitória de Portugal por 3 ) que o atrasou. Já tinha sido combinada entre os outros dois elementos a ordem dos exames. Eu seria o segundo. No momento em que chega a minha vez, entra o Prof. Vaz e pede que seja alterada a ordem, ficando eu para ele. O terceiro. Chegado o momento, diz-me, abre e lê o Damião de Góis. Mais umas tantas perguntas e acaba o exame.

Estava no átrio à espera dos resultados e senti um pontapé no fundo das costas. Voltei-me furioso e dou com o Prof. Vaz que me diz "reprovei-te porque não sabes nada".
Claro que passei. Mas não gostei da nota miserável.

Tudo isto vem ao caso porque gosto de lembrar os professores a quem muito fiquei a dever. Claro que nas disciplinas técnicas fui sempre um péssimo aluno. Mas ficaram  recordações. Principalmente da minha Professora Primária, a D. Belmira.

Este escrito é a minha homenagem aos professores, lembrando especialmente aqueles por quem passei nas mãos. Não foram só Professores, mas pessoas humanas que me deixaram exemplos para recordar
Hoje, não faço ideia de como é o ensino. Com tantas polémicas, descoordenações, reuniões, papeis para preencher, e que tempos de aula ? é um mundo onde ninguém se entende, com pais agradecidos outros revoltados, alunos bonzinhos e uns tantos que só à bofetada deveriam ser tratados. E os Professores, pessoas, que têm a dizer ?
Não sei se os seus salários compensam esta actividade desorganizada, ao sabor de tantos interesses e políticas, algumas sem jeito que mesmo quem não é da "arte" entende. Não sei se há bons e maus professores. Mas sei que sem eles seríamos analfabetos.

Um abraço de carinho a todos os Prof's. Em especial aos que me dão a sua amizade e são muitos, quer estejam no activo ou como eu a gozar a boa da vida...
E particularmente à amiga Maria Helena Leote, que amanhã completa mais um ano de vida.
Parabéns a você, Amiga. (Ainda não completei a leitura do seu livro...)

Por casualidade, no sábado passado fui dar a uma Escola. Dizia um companheiro era aqui a minha carteira. Por muito velho que estejamos, os nossos verdes anos passados na Escola serão sempre relembrados.
Mesmo que a cana ou a palmatória, na altura, nos tenha doído.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Jorge!


Obrigada pela homenagem prestada aos professores neste texto tão simples de ler, mas que contém uma importante mensagem. Obrigada pelos votos de feliz aniversário e pela sua amizade.
Um abraço apertadinho.


Lena

Anónimo disse...

Meu Jorge querido, paz e saúde, e bom feriadão.Estive fora do ar, para variar, por haver queimado parcela do computador. Haja raios e trovões, em dois dias, somente no nosso estado, que deve ter o maior ‘chama raios’, foram CINCO MIL E DUZENTOS raios...!!!Ainda bem que não houve quem os parta a todos os que merecem...Domingo teremos eleições (que não dá mais para agüentar a mesma lenga-kenga)...Estou a correr, pois hoje vem filha, genro e neta, e ainda tenho voltas a dar. E muitas...Mas li com atenção, te acompanhando nos sentimentos e lembranças sobre OS PROFESSORES, eles ou elas. Teria letras em quantidade para comentar, mas o tempo me faz adiar.Estou contigo nos pareceres, pois somos SOBRAS DA INFÂNCIA, e do complemento PERÍODO ESCOLAR...Estes tempos não se apagam, pois nele iniciamos os nossos vôos fora do ninho...Abraço meu com o mesmo carinho de sempre, e até mais...
Alda

Anónimo disse...

Amigo Jorge:
Como professor PRIMÁRIO ( Não gosto do termo "do 1º ciclo "), embora aposentado, gostei muito do teu texto. Houve , há e sempre haverá bons e" menos bons" professores.
A verdades são para ser ditas. um abraço
Peixoto