quinta-feira, 24 de junho de 2010

Carta ao Victor

Querido amigo e camarada
Encontraste-me ao fim de 36 anos porque viste um escrito meu e a foto de uma menina que ambos conhecemos em África, lá no fundo da Guiné, em Catió, filha dos nossos saudosos amigos Barrinhos.
A partir dessa altura, conversamos muito e acabamos por nos rever pessoalmente em Maio de 2007. De muita coisa falámos, procurámos gentes, que gentes procuravam. Conseguimos pistas, trocámos contactos, enfim, andamos por aí.
Quando comecei a ter tempo para descobrir a fundo o meu Porto, foste dos primeiros a ver as minhas fotos, que elogiaste. Disse-te que havia coisas que não conseguia, por mais que tentasse, fazer bem. Uma delas era a foto da casa nº 4 da Rua de S. Miguel, forrada com azulejos do séc. XVII que saíram do Convento de S. Bento. Disseste-me que um dia haveria de o conseguir.
Esta casa bem fotografada tornou-se como uma espécie de obsessão. De dia ou de noite, nunca consegui fazer obra asseada. E mandava-te as fotos para veres. Dizias sempre, tem calma, um dia consegues.
Em 14 de Maio, dia da visita do Papa à minha cidade, fui para a Vitória fazer as "Fernandinas" e obriguei-me a ir fotografar a casa. Pensei para mim: É hoje Victor. Mas não tive coragem para te enviar as fotos. Dias antes tinhas escrito aos teus amigos para seleccionarem os emails que te enviassem. Falamos sobre isso e eu retraí-me.

Ainda não consegui a tal foto. Mas continuarei a tentar e quero que saibas, querido amigo, que no momento de disparar estarei a pensar em ti.
Até qualquer dia, Victor.

4 comentários:

Santos Oliveira disse...

Jorge Teixeira

Tiveste a subida honra de trocares "galhardetes" com o Victor, passados, que foram, 36 anos.
Partilhaste de alegrias, desejos e ansiedades.
Comungaste das coisas comuns da linda Catió.

Pois, quase vos invejo pela sã convivência e contactos assíduos.

Agora, o Victor partiu, deixou-te (nos) mais só, mas ficou uma Obra por promessa de continuação da Vida.
Ele disse-te que um dia conseguirás; eu estou seguro disso.
Cumprirás a Homenagem ao nosso Camarada e Amigo.
Uma Homenagem que não deixa de lado a Saudade que já se instalou no nosso meio.

Bem hajas Jorge Portojo, porque debaixo dessa capa de "forte" deixas descobrir a sensibilidade do Homem e do Camarada.

Força, Jorge. Também, eu, estou esperando essa "tal" foto que já elogiei noutra altura.

Saudades do Victor e Paz á sua Alma.

Para ti, abraços, do
Santos Oliveira

Luci Brito disse...

Linda homenagem a teu amigo Jorge.
Beijos e abracos.

Anónimo disse...

Amigos e camaradas: Já a caminho de Monte Real, para o nosso V Encontro Nacional, quero que partilhem, comigo, em primeira mão, este pequena obra prima do sentimento humano: é das coisas mais lindas que eu já li, escritas por um amigo para outro amigo que acaba de nos deixar... É um privilégio ter, na nossa Tabanca Grande, camaradas como o Jorge e o Victor (que só nos deixou fisicamente). Um Alfa Bravo. Luís

Anónimo disse...

Caro Jorge,
Conseguistes uma linda expressão de homenagem ao teu amigo Victor. São sentimentos humanos como os teus que me fazem acreditar que a amizade é a coisa mais bela que o ser humano tem para dar.
Obrigado por partilhares comigo esta carta impregnada de tamanha solideriedade humana.
Obrigado pela oportunidade que me deste um dia para te poder chamar amigo.
Um abraço muito grande e amigo que vai deste outro lado do mar,
José Câmara